Geografia
26/11/2013
Mudanças Climáticas
Estudo sugere que veremos um "novo clima" em 35 anos
Por Fabiano Ávila
Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual, a cidade do Rio de Janeiro alcançará um “desvio no clima” (climate departure) no ano de 2050, significando que a partir dessa data todos os anos seguintes serão mais quentes do que qualquer recorde registrado desde 1860. Para São Paulo, o ano marcante é 2051, já para Brasília é 2047.
É 2047, aliás, o ano no qual mais de metade do planeta alcançará esse “desvio”, aponta uma pesquisa realizada pela Universidade do Havaí e publicada na revista Nature nesta quinta-feira (10).
“Estamos chocados. Independentemente do cenário, mudanças acontecerão em breve. Ainda nesta geração, o clima ao qual estamos acostumados será uma coisa do passado”, afirmou Camilo Mora, principal autor do estudo.
Nos trópicos o cenário é ainda mais pessimista. Havana, em Cuba, e a Cidade do México ultrapassarão esse “desvio” em 2031. Accra, em Gana, em 2027, e Porto Príncipe, no Haiti, em 2025 (veja a tabela completa das cidades no fim da matéria).
“Nossos resultados sugerem que os países a serem primeiro impactados por um clima sem precedentes são justamente os que possuem menos capacidade para se adaptar. Ironicamente, esses também são os menos responsáveis pelas mudanças climáticas”, afirmou o coautor Ryan Longman.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores dividiram o planeta em regiões de pouco mais de 600 quilômetros quadrados e traçaram mínimos e máximos de temperaturas entre 1860 a 2005 para cada uma dessas áreas.
Em seguida, usando 39 Modelos de Sistemas Terrestres, desenvolvidos por 21 centros climáticos de 12 países, projetaram quando cada uma dessas regiões começaria a constantemente ficar acima dos limites elaborados pelo levantamento das temperaturas históricas. O ano em que isso acontece foi batizado pelos autores como “climate departure” (que aqui escolhemos traduzir como “desvio no clima”).
Impactos
Os trópicos são o lar da maior biodiversidade do planeta, e muitas dessas espécies não estão acostumadas com variação climática e são vulneráveis mesmo às menores alterações, alerta o estudo.
Citando outras pesquisas, os autores afirmam que os corais são um exemplo claro de como a situação é crítica. Esses organismos estão sobre enorme pressão devido ao aumento das temperaturas e da queda do pH dos oceanos, resultante da maior concentração de dióxido de carbono (CO2) nas águas.
A Universidade do Havaí utilizou o mesmo método que foi aplicado para as temperaturas nas cidades também para avaliar o pH dos oceanos.
O resultado disso revela que o “desvio no clima” para o pH já aconteceu. Desde 2008, o pH está abaixo de qualquer registro desde 1850 e assim deve continuar.
O baixo pH resulta na acidificação dos oceanos, que é uma das principais causas para o “branqueamento” e consequente morte de grande parte dos corais, que são essenciais para o ecossistema marinho.
“Esse trabalho demonstra que estamos colocando os ecossistemas sob novas condições, as quais eles podem não ser capazes de se adaptar. É muito provável que veremos extinções”, afirmou Ken Caldeira, do Departamento de Ecologia Global da Instituição Carnegie, que não participou do estudo.
Obviamente, a elevação das temperaturas terá também impactos na sociedade humana.
Mais de cinco bilhões de pessoas vivem atualmente em regiões que já antes de 2050 passarão a experimentar eventos extremos mais frequentes e intensos. Além dos conhecidos problemas de secas e inundações, haverá consequências para a produção de alimentos e para praticamente todos os setores econômicos.
Outras pesquisas também destacam que entre os perigos da elevação das temperaturas estão o aumento de conflitos causados por disputas por terras aráveis e por água, a migração em massa e a expansão de doenças tropicais, que sob um novo regime climático devem alcançar novas áreas.
“Esse estudo é muito importante. Ele conecta os pontos entre os modelos climáticos e os impactos para a biodiversidade de uma forma inovadora, e traz ramificações para espécies e pessoas”, declarou Jane Lubchenco, ex-presidente da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA).
Além de considerar o cenário do “business as usual” (RCP 8.5) para as emissões (se continuarmos com nossos hábitos de consumo sem alteração), o trabalho também fez projeções para um cenário onde consigamos controlar as liberações de gases do efeito estufa (RCP4.5).
Nessa segunda situação, ganharíamos entre 20 e 25 anos até que mais da metade do globo ultrapassasse o “desvio no clima”.
“Cientistas têm repetidamente alertado sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na biodiversidade e nas pessoas. Nosso estudo mostra como tais mudanças já estão próximas. Os resultados apresentados não são uma razão para desistirmos. Ao contrário, precisamos encorajar as reduções nas emissões para diminuir a taxa das mudanças climáticas. Assim, poderemos ganhar tempo para as espécies, ecossistemas e para nós mesmos nos adaptarmos”, concluiu Mora.
Esta notícia foi publicada em 10/10/2013 no site www.institutocarbonobrasil.org.br. Todas as informações contidas são de responsabilidade do autor