Disciplina - Geografia

Geografia

28/02/2008

O desafio de US$ 1 bilhão

Os números são eloqüentes: uma criança morre da doença a cada 30 segundos; por ano são mais de 1 milhão de mortos e mais de 500 milhões de novos casos, a maior parte na África.
Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que a malária causa uma perda média de 1,3% no crescimento econômico anual em países com transmissão intensa. No Brasil, foram registrados 545.696 casos em 2006, com a Amazônia Legal respondendo por 99,7% do total. A maior incidência (73,4%) é da espécie Plasmodium vivax, uma das três que causam a doença por aqui.
Não há vacina para a malária e os países mais afetados não contam com sistemas de saúde adequados ou estratégias eficazes para controle da epidemia. A falta de dinheiro sempre foi o principal problema, mas isso é algo que tem mudado rapidamente.
Há dez anos, os recursos disponíveis para enfrentar a doença chegavam a US$ 100 milhões. Este ano, o total poderá ultrapassar US$ 1 bilhão, graças a iniciativas como a do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária e apoio financeiro das mais diversas instituições, como o Banco Mundial, a Fundação Bill e Melinda Gates, o Comitê Olímpico Internacional e até mesmo o time de futebol espanhol Real Madrid, que doou dinheiro arrecadado em amistosos.
Os novos fundos serão suficientes para melhorar o cenário? A questão é o assunto de capa da edição de 28 de fevereiro da revista Nature, que destaca que finalmente o mundo passa a contar com verba para o controle da malária suficiente para começar a promover conquistas de peso e extensão na luta contra a doença.
Mas, segundo o epidemiologista norte-americano Mark Grabowsky, coordenador das iniciativas contra a doença do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, junto com a oportunidade única vem o aumento na responsabilidade de gastar bem o dinheiro.
Em artigo na revista, Grabowsky, que também é dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, aponta medidas para o bom uso dos recursos, que incluem a integração de programas de prevenção com outras iniciativas em saúde, a melhoria na distribuição de tratamentos existentes e, especialmente, o acompanhamento das abordagens empregadas e de seus efeitos.
Para ele, distribuir redes antimosquito para camas, uma das mais eficazes formas de prevenir a doença, é importante, mas sem o monitoramento freqüente nos locais afetados a estratégia será insuficiente.
Segundo Grabowsky, caso não se aumentem os esforços e gastos destinados ao controle das medidas, o “esforço de US$ 1 bilhão contra a malária se tornará um vôo às cegas”. Ou seja, algo muito distante do objetivo ambicioso das entidades responsáveis pelos financiamentos de cortar o número de mortos pela metade até 2010.
“Fundos adequados para o controle da malária são um primeiro passo muito importante, mas coordenação, planejamento e apoio operacional são fundamentais para atingir os objetivos delineados”, disse. Para o epidemiologista, a questão é simples: a maioria dos países atingidos não conta atualmente com condições de coordenar as iniciativas que serão necessárias.
Grabowsky é incisivo: diferentemente de declarações como as de Bill Gates a respeito da erradicação da doença, o problema continuará presente por muito tempo. “Erradicação é um projeto de décadas que exigirá novas ferramentas, inclusive uma vacina eficiente”, afirmou.
A Nature traz dois outros artigos sobre a malária. O primeiro descreve a longa luta para tentar obter a primeira vacina contra a doença, seja em laboratórios ou em testes clínicos de larga escala. O segundo relata os caçadores de mosquito na Zâmbia, de modo a tentar entender a dinâmica da doença e chegar a soluções para reduzir o impacto do problema no continente africano.
O artigo The billion-dollar malaria moment, de Mark Grabowsky, pode ser lido em breve por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8482
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