Disciplina - Geografia

Geografia

12/08/2011

No giro dos pedais em SC

Elas desfilam pra lá e pra cá o tempo todo. As mais românticas têm cestinha na frente e uma moçoila de saia a bordo. As rústicas passam apressadas com algum trabalhador que, sobre duas rodas, chega ao serviço todos os dias. Há anos as bicicletas fazem parte da rotina das nove cidades do Vale Europeu catarinense. A novidade é que agora, por lá, também circulam modelos equipados, com marchas, amortecimento, banco de couro e, o mais curioso, guiados por turistas.
A experiência de cicloturismo no Vale Europeu catarinense, na região de Blumenau, o primeiro roteiro no Brasil planejado especialmente para ser percorrido de bicicleta, já foi feita por mais de 3 mil pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Todos dispostos a percorrer os 300 quilômetros em seis dias de muita pedalada por estradinhas de terra, com direito a paradas prazerosas para apreciar as belezas naturais e conhecer mais sobre a cultura e o povo do local. “Além de o circuito ser muito bonito, pedalar nesse ambiente natural dá uma sensação incrível de liberdade. Existem alguns trechos difíceis, mas a beleza da paisagem compensa”, conta o bancário Oilson Frake, 43 anos.
Para começar a aventura, o grupo parte de Timbó, cidade que fica a 30 km de Blumenau. A largada das bikes já tem um belo pano de fundo. A imponente Ponte da Thapyoka que, junto com a represa do Rio Benedito, monta um cenário interessante para os primeiros cliques dos ciclistas. Antes de explorar a beleza das paisagens é preciso retirar o material de apoio na Associação Vale das Águas, composto por um guia e um passaporte. O guia funciona como o plano de viagem e traz todas as informações sobre o trajeto, detalhadas dia a dia e com direito a mapa, indicação do grau de dificuldade dos trechos e planilha com distâncias. O passaporte pode ser carimbado nos principais pontos de passagem de cada cidade e dá direito a alguns descontos em hotéis e pousadas.
No agito dos pedais, parte gente de todas as idades e com os mais variados objetivos. Senhores e senhoras aposentados seguem num ritmo mais lento, mas igualmente dispostos a respirar o ar puro e curtir a paisagem verde da Mata Atlântica. Também tem turistas tradicionais, que só querem uma nova experiência fora de casa; e, claro, os fãs de bicicleta, gente que quanto mais longe e mais subida tiver, maior e melhor o desafio.
As passagens íngremes às vezes assustam, mas elas não precisam entrar obrigatoriamente na rota. É possível fazer só uma parte do circuito. Na parte baixa do itinerário, em que a altitude é só um pouco maior do que a do nível do mar, não há subidas fortes e que exijam muito preparo físico. Já na parte alta, o circuito sobe a serra em direção às represas, que ficam a 700 metros de altitude. Por lá, as estradinhas de terra têm relevo bem acentuado e é preciso suar a camisa para chegar aos belos mirantes e cachoeiras.
Entre os trechos mais íngremes do percurso estão os oito quilômetros da subida do Ipiranga. O esforço, que começa na estrada de Doutor Pedrinho, permite que os aventureiros conheçam a Cachoeira do Zinco, em Benedito Novo. Os 80 metros de queda d’água ficam dentro da pousada-fazenda de 1,8 mil hectares do simpático casal Egon e Margareth. “Trouxeram o sol? Cada um que chega nesse frio tem que trazer o sol dentro de si...”, diz a cozinheira-artista que, além da comida de primeira, é responsável pela criativa decoração da pousada e da mesa onde os convidados são recepcionados para almoçar.
No caminho
Há muito para se ver e conhecer sobre duas rodas. A primeira coisa é observar as construções na arquitetura enxaimel, típica do sul da Alemanha. Igrejas, antigas casas e barracões ganham o ar europeu com suas grossas vigas aparentes e tijolos alaranjados. Na região, existem 248 casas construídas nesse estilo, sendo que 50 delas estão dentro da rota do cicloturismo. A única igreja no Brasil construída totalmente em enxaimel está em Benedito Novo, uma das cidades para visitar no quarto dia, quando se está pedalando em direção a Doutor Pedrinho. Na chamada Igreja Evangélica do Conselho Luterano, as missas eram rezadas em alemão até dois anos atrás.
Andando pelas ruas de chão batido de qualquer uma das nove cidades do circuito, o que mais se encontra são descendentes de alemães e italianos. Pomerode, para onde se vai no primeiro dia do roteiro, é considerada a cidade mais alemã do Brasil e preserva muito da paisagem e costumes da colonização. Dá para conhecer um pouco dessa história na Casa do Imigrante, de 1920. O lugar, que hoje é um museu, foi casa de Carl Weege, antepassado dos donos da Malwee, que mantêm o local. Outra boa ideia é dormir em uma construção como essa. Na Pousada Casa Walchholz, os quartos retratam séculos passados e as muitas cucas dão o sabor da culinária alemã.
Outra característica do trecho são as pontes. A dos Arcos, que fica entre as cidades de Indaial e Rodeio – caminho do terceiro dia do circuito –, é toda coberta de madeira. Mas a mais interessante é a ponte pênsil Warnow, que facilita a passagem sobre o Rio Itajaí-Açu. Pedalar sobre suas imensas tábuas de madeira, sentindo seu leve balançar e o vento no rosto é incrível.
Esta notícia foi publicada em 04/08/2011 do sítio Gazeta do Povo . Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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