Disciplina - Geografia

Geografia

09/08/2011

Uma segunda recessão pode ser muito pior do que a primeira

The New York Times - Caso a economia dos Estados Unidos volte a cair em recessão, como muitos economistas vêm alertando, a crise poderá ser muito mais dolorosa do que na recessão passada.
Dado o tumulto causado pela Grande Recessão, talvez seja difícil acreditar nessa previsão. Mas a economia está muito mais fraca do que no início da recessão passada, em dezembro de 2007, e a maioria dos indicadores de saúde econômica -entre os quais emprego, renda, Produto Interno Bruto (PIB) e produção industrial- estão hoje abaixo das marcas que detinham no início da recessão passada. E o crescimento vem sendo tão fraco que quase nenhum terreno foi recuperado, ainda que a recuperação tenha se iniciado, tecnicamente, em junho de 2009. "Seria desastroso se entrássemos em recessão agora, pois nem conseguimos recuperar o terreno perdido na recessão passada", disse Conrad DeQuadros, economista sênior da RQD Economics.
Quando a desaceleração passada surgiu, a bolha de crédito havia criado muita gordura excedente que os americanos podiam cortar, mas uma nova crise forçaria as famílias a cortar carne e osso. Para agravar as coisas, as autoridades econômicas já utilizaram quase todas as ferramentas econômicas de que dispõem, no combate à recessão passada, e lhes restam poucas opções. A ansiedade e a incerteza se agravaram nos últimos dias, depois que a agência de classificação de crédito Standard & Poor's decidiu rebaixar a classificação dos títulos públicos americanos e em meio aos esforços desesperados da Europa para conter sua crise.
O presidente Barack Obama reconheceu o desafio em seu discurso transmitido sábado pelo rádio e pela internet, afirmando que a "missão urgente" do país agora estava em promover o crescimento econômico e a criação de empregos. "Nosso trabalho agora tem de ser fazer o possível para ajudar as pessoas a encontrar trabalho", disse, "e ajudar a criar um clima no qual as empresas voltem a procurar funcionários, no qual a renda das pessoas volte a subir. Temos de reconstruir a economia e o senso de segurança que as famílias de classe média vêm perdendo há anos".
Nos quatro anos desde o início da recessão, a população em idade de trabalho cresceu 3% no país. Se a economia estivesse saudável, o número de empregos teria crescido ao menos na mesma proporção. Mas, em lugar disso, o número de postos de trabalho caiu. Hoje, a economia conta com 5% menos empregos -ou 6,8 milhões de postos de trabalho- do que antes do início da recessão passada. O índice de desemprego era de 5%, então, ante os 9,1% atuais. E mesmo os americanos que estão trabalhando vêm trabalhando menos horas em geral; a jornada semanal média de trabalho de um empregado do setor privado é mais curta hoje do que há quatro anos.
Os empregadores, na recessão passada, cancelaram horas e turnos extras de trabalho e demitiram os funcionários menos eficazes e os trabalhadores ocasionais que podiam dispensar. Como os avanços incomumente fortes no índice de produtividade revelam, as empresas agora vêm extraindo o máximo de trabalho possível de seus quadros já enxutos. Caso a recessão volte, não se sabe quantos trabalhadores a mais poderão ser demitidos pelas empresas sem que isso as impeça de continuar funcionando. Com menos empregos e jornadas de trabalho mais curtas, a renda domiciliar é mais baixa, o que reduz os gastos familiares e causa sérios embaraços para uma economia cujo propulsor vinha sendo o consumo.
Ajustada pela inflação do período, a renda pessoal caiu em 4%, excluídos pagamentos como benefícios-desemprego pelo governo. O nível de renda é baixo e está avançando na direção errada: os salários do setor privado caíram em junho, o mês mais recente para o qual existem dados disponíveis. O consumo e a habitação costumam ser os propulsores de recuperação. Mas, com a queda na renda, os gastos dos consumidores mal retornaram ao patamar anterior à recessão. Se a economia estivesse saudável, o consumo teria subido devido ao aumento na população. E, com a quase paralisia do setor de construção e a queda de quase 24% nos imóveis residenciais, de dezembro de 2007 para cá, o país não conta com a habitação como fonte de energia econômica.
De todos os indicadores econômicos, a produção industrial -de acordo com os números do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos)- é de longe o pior. O índice do Fed para essa atividade está quase 8% abaixo de seu nível em dezembro de 2007. Da mesma forma, e talvez igualmente preocupante, é o histórico do PIB como um todo. De acordo com dados recentemente revisados do Departamento de Comércio, a economia continua menor hoje do que no início da recessão, apesar (ou talvez por causa) do crescimento morno dos dois últimos anos.
Se a economia estivesse saudável, seria bem maior do que há quatro anos. Os economistas se referem à diferença entre a posição atual da economia e a que ela deveria ocupar se todo o potencial produtivo estivesse sendo aproveitado como "deficiência no PIB". Menzie Chinn, professor de Economia na Universidade de Wisconsin, calculou que a economia estava cerca de 7% abaixo de seu potencial, no começo do ano.
Ao contrário do acontecido na primeira crise, haveria poucas opções de política econômica disponíveis para uso caso a recessão ressurja. As taxas de juros já foram baixadas ao máximo -são zero, na prática. O Fed já injetou liquidez no mercado ao adquirir bilhões de dólares em títulos hipotecários e do Tesouro, e os economistas nem mesmo concordam quanto a essas aquisições terem ou não ajudado a economia. Por isso, o Fed talvez não veja vantagem em realizar outra rodada de compras de títulos, o que causaria grande controvérsia política. "Há um limite para o número de vezes que o Fed pode tirar o mesmo coelho da cartola", disse Torsten Slok, economista internacional chefe do Deutsche Bank. O Congresso tinha algum espaço -financeira e politicamente- para promover estímulo fiscal, na recessão passada.
Pelo final de 2007, a dívida federal era equivalente a 64,4% do PIB. Hoje, a estimativa é de que tenha chegado a 100% do PIB, proporção vista pela última vez logo depois da Segunda Guerra Mundial, e há pouca chance de que os legisladores cheguem a um consenso sobre medidas adicionais de estímulo que elevariam a dívida. "Não existe precedente abordável, ao menos na era do pós-guerra, quanto ao que acontece caso uma economia com desemprego de 9% volte a cair em recessão", disse Nigel Gault, economista chefe da IHS Global Insight para os Estados Unidos. "O único precedente disponível é 1937, quando o estímulo fiscal também foi retirado de maneira prematura e a economia voltou a cair em recessão, mais dolorosa que a primeira".
Existe pelo menos um fator, porém, que pode fazer com que uma segunda crise pareça mais amena que a primeira: os lucros das empresas. Estão batendo recordes e, computada a inflação do período, foram 22% mais altos no primeiro trimestre deste ano do que no trimestre final de 2007. Nervosas quanto ao futuro da economia, as grandes empresas relutam em fazer investimentos dispendiosos, como contratações. E como resultado suas reservas de caixa são imensas.
Embora isso não represente grande conforto para os 13,9 milhões de desempregados dos Estados Unidos, pode aliviar a situação de seus compatriotas que ainda têm empregos. "Na crise financeira, quando os mercados estavam congelando, a primeira reação foi a de que era preciso fazer caixa", disse Neal Soss, economista chefe do Credit Suisse. "A melhor maneira de fazer caixa é reduzir a folha de pagamento, e por isso vimos tantas demissões". As reservas de caixa das empresas podem servir como proteção contra demissões caso a demanda caia.
"Há argumentos de que uma nova recessão seria ainda pior e argumentos em contrário", afirmou. "A essa altura, não sabemos. Mas a verdade é que essa é uma questão cuja resposta todo mundo preferiria não saber".
Esta notícia foi publicada em 08/08/2011 do sítio Folha OnLine . Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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