Disciplina - Geografia

Geografia

22/08/2010

Aplicações da geografia militar voltam a ser debatidas

A geografia militar, adotada no conhecimento territorial de áreas de guerra, começa a ser resgatada pelos meios acadêmicos. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências (FFLCH) da USP, o geógrafo Filipe Giuseppe Dal Bó Ribeiro pesquisou a trajetória da geografia militar desde o século 19. O pesquisador também aponta uma possível forma de aproximação com a geografia acadêmica no Brasil, por meio de informações que contribuam para organizar a defesa do território do País, em especial na região amazônica. O geógrafo levantou a bibliografia existente sobre o tema no Brasil, concentrada em instituições militares. A origem da geografia militar é prática, ligada a necessidade dos exércitos transporem os territórios inimigos. “Ela é definida como campo de estudo em 1832, pelo francês Théophile Lavalée, antes da geografia acadêmica, centrada em aspectos humanos e políticos”, aponta Ribeiro. “Cabe lembrar que questões geográficas ligadas a guerra estavam presentes muito antes, em textos de pensadores como Sun Tzu e Maquiavel, e ganharam destaque com as campanhas de Napoleão, no início do século 19”. O maior desenvolvimento da geografia militar acontece com as duas Guerras Mundiais no século 20, marcadas pelas disputas territoriais entre países. Porém, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também leva a geografia a perder importância no planejamento militar, que passa a priorizar aspectos como logística, inteligência e estratégica. “O surgimento do conflito entre Estados Unidos e União Soviética (Guerra Fria), após 1945, aumenta a importância da geopolítica, mais focada em aspectos ideológicos, ocupando o lugar da geografia militar”, diz o geógrafo. A Guerra do Vietnã (1961-1975) acentua um distanciamento entre a ciência acadêmica e a militar nos Estados Unidos, que só começaria a ser superado no final dos anos 90 do século passado. “Com o fim da União Soviética, em 1991, surge a ideia de ‘guerra rápida`, superada depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, quando ressurge o conceito de geografia militar”, destaca Ribeiro. “O governo de George W. Bush, de 2001 a 2009, prioriza o Iraque ao Afeganistão, devido ao relevo mais plano e a população mais concentrada em torno de Bagdá, que favorecem a ocupação, entre outros fatores.”
Estratégia
No governo de Barack Obama, iniciado em 2009, a prioridade se deslocou para o Afeganistão, uma escolha que o geógrafo considera acertada em termos geopolíticos, mas temerária no aspecto militar. “Embora a localização seja estratégica em relação ao Irã e ao Paquistão, países sob os quais os Estados Unidos desejam manter influência, o relevo é muito mais acidentado do que o Iraque”, descreve, “e a população, além de ser mais dispersa, tem um conhecimento mais profundo do terreno, que já trouxe grandes dificuldades a outros invasores, como os ingleses e os soviéticos.” Mesmo um eventual ataque contra o Irã também contaria com grandes obstáculos naturais e militares, salienta o pesquisador. “O relevo é montanhoso, a população está mais bem distribuída pelo território do que no Iraque e o exército é mais equipado.” Segundo Filipe, a trajetória da geografia militar no Brasil será abordada de forma mais profunda na continuidade da pesquisa, mas seu desenvolvimento no País está relacionado a formação de uma intelectualidade militar, em especial até os anos 30 do século passado. “No primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), acontece a implantação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que reduz o espaço da geografia militar”, conta. A partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, por influência dos Estados Unidos, o foco da inteligência militar se desloca para a geopolítica. “Atualmente, também como nos EUA, se busca uma reaproximação entre a geografia acadêmica e a militar”, diz o geógrafo. “No Brasil, a questão é saber de que forma a geografia pode contribuir com a questão da defesa do território nacional, por meio das pesquisas sobre geomorfologia, vegetação, redes hidrográficas, de transporte e comunicações, em especial no que diz respeito a Amazônia”. O trabalho teve a orientação do professor André Martin, do Departamento de Geografia da FFLCH.
Esta notícia foi publicada em 18/08/2010 no sítio http://www.usp.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.