Disciplina - Geografia

Geografia

11/08/2010

Meteorito muda a rotina de uma cidade no Rio

Achou um pedrinha preta e a levou até a escola municipal, para que a professora de geografia Filomena Ridolphi desse um parecer. A pedra chegou às mãos de Filomena precedida de relatos assustados. “Os alunos diziam ter visto um avião explodir. Alguns acharam que era o fim do mundo”, diz Filomena. A professora já tinha participado da Olimpíada Brasileira de Astronomia e tinha o telefone de Maria Elizabeth Zucolotto, do Museu Nacional do Rio, conhecida como “caçadora brasileira de meteoritos”. Bastou um telefonema para a astrônoma ir até a cidade. Ela tirou uma lasquinha da pedra e confirmou: era um meteorito. A descoberta mudaria a vida de seu Germano – e também de Varre-Sai. Mais de 500 pessoas, entre jornalistas, turistas, curiosos e pesquisadores, já foram até lá atrás de fragmentos do meteorito. A cidade tem recebido visitantes de vários cantos do mundo. “Chegou um americano aqui com um aparelho. Era só apontar para a minha pedrinha que ele não parava de apitar”, diz Germano. “Quando eu imaginaria aparecer toda hora na televisão? Só isso já vale muito mais do que a pedra!” Para a economia da cidade, o aumento nos lucros também foi meteórico. “A movimentação subiu 35%”, afirma Gilson Santos, dono de duas pousadas e um restaurante no município. “Já hospedei italiano, espanhol, americano, boliviano. Muito chique!” Um dos curiosos é o uruguaio Hans Roser, de 51 anos. Comerciante de pedras e membro da Associação Internacional de Meteoritos, ele estava trabalhando no Rio e não pestanejou em encarar a estrada. “Essa pedra viajou milhões de quilômetros. Eu só andei 400.” Apaixonado por meteoritos, ele os compara a telegramas. “Quando cai alguma coisa do céu, tem de ser bom. É importante comercial e cientificamente.” Os meteoritos são restos de planetas que não existem mais ou que nem chegaram a se formar. Eles entram em rota de colisão com astros maiores, atraídos pela força gravitacional. A maioria dos que se aproximam da Terra se desintegra ao entrar na atmosfera. Por isso é muito raro encontrá-los. O Brasil tem apenas 58 registros. O mais recente caíra há 19 anos, em Campos Sales, no Ceará. O maior de todos, o de Bendegó, foi encontrado no sertão baiano em 1784 e está exposto no Museu Nacional, no Rio, desde 1888. Pesa 5.360 quilos. “É impossível prever quando vai cair um meteorito. Então, temos de ensinar a população a procurá-los”, afirma a astrônoma Elizabeth Zucolotto. Nos Estados Unidos, estão catalogados mais de 1.500 objetos desse tipo. “Isso se deve à participação da população. Como lá existe um comércio de meteoritos, as pessoas são estimuladas a observar pedras diferentes.” Apesar do interesse que meteoritos podem despertar, até agora nenhum órgão de pesquisa do país mandou uma equipe para Varre-Sai. Elizabeth Zucolotto foi até lá por conta própria.
Pela descrição feita pelos moradores de Varre-Sai, o meteorito que caiu por lá se fragmentou de forma que é impossível estimar seu peso e tamanho. Até agora foram encontrados três pedaços do meteorito. Um está nas mãos da professora Zucolotto. Outro foi comprado pelo espanhol Benjamim Rivera, de 43 anos. Ele deu R$ 170 e uma jaqueta de couro a um garoto da cidade por uma amostra de 200 gramas. Rivera vive na Bolívia e foi detido no Aeroporto Tom Jobim quando tentava embarcar com a pedra. Acusado de contrabando, ele está preso desde o dia 7 de julho. Em entrevista ao diário espanhol El País, ele questionou a lei brasileira. “Ao contrário de Canadá e Argentina, no Brasil não há uma legislação específica para meteoritos. Há um vazio legal”, afirma. Não é bem assim. A Portaria 55 do Ministério da Ciência e Tecnologia diz que nenhum estrangeiro pode coletar material científico caso não seja membro de uma universidade brasileira – o que impediria Rivera de levar o material para fora do país. O terceiro e maior pedaço do meteorito ainda está nas mãos de Germano. O prefeito da cidade, Everardo Ferreira, diz querer comprá-lo para montar um museu. “Essa pedra não pode sair do município”, diz. Germano não parece pensar da mesma forma. “A pedra é minha e eu vendo para quem eu quiser.” Para ele, o prefeito quer convencê-lo a vender a pedra por menos do que ela vale. “Quero R$ 30 mil. Avaliaram e disseram que cada grama vale US$ 30 e ela pesa 600 gramas. É minha chance de comprar uma casa”, afirma. “Vai saber quando vai cair uma pedra aqui de novo? A prefeitura é que tem de me ajudar.” Seu Germano diz tomar dez remédios por dia desde que sofreu um infarto, dois anos atrás. Desde então, ele vive de favor no sítio onde trabalhava. Enquanto Germano não vende seu achado, o prefeito segue bolando planos para conseguir partes do meteorito. Já ofereceu uma bicicleta como incentivo para qualquer aluno da rede municipal que encontrar algum fragmento. “Caiu do céu”, limita-se a dizer quando perguntado sobre a importância do meteorito para Varre-Sai. Mesmo que não tenha serventia alguma para a prefeitura, o asteroide já é a figura mais famosa da cidade.
Esta notícia foi publicada em 07/08/2010 no sítio http://revistaepoca.globo.com. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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