Geografia
19/06/2010
América Latina quer crescer, com ou sem democracia
Mas uma em cada seis pessoas ouvidas aceitariam regimes autoritários em troca de mais desenvolvimento econômico. Apesar de quase todos os países terem experimentado ditaduras, o resultado é homogêneo, de Honduras ao Chile. A Paraná Pesquisas fez a mesma pergunta aos curitibanos a pedido da Gazeta do Povo. O resultado foi ainda mais chocante: quase um em cada três entrevistados trocaria democracia por vantagens financeiras. O curioso é que, para alguns especialistas, as duas coisas andam juntas. “A economia de mercado, com segurança jurídica e garantias de direitos individuais só existe na democracia”, diz o doutor em Direito Internacional e professor do Instituto Rio Branco Jorge Fontoura. Ele questiona se os curitibanos que responderam à pesquisa conheceram o autoritarismo da ditadura. Com efeito, mais de 60% dos entrevistados têm menos de 45 anos, ou seja, tinham menos de 20 anos em 1985, quando José Sarney assumiu como primeiro presidente eleito, ainda que indiretamente, após o golpe de 64. “Talvez, na Argentina, a resposta fosse diferente, já que lá a lembrança do regime militar é mais amarga”, compara o cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer.Para outros analistas, a resposta não é alarmante.
O peruano naturalizado brasileiro Hugo Meza Pinto, economista da Faculdades Santa Cruz, considera o resultado mero retrato da urgência com que os brasileiros veem o desenvolvimento. “Não levaria muito a ferro e fogo essa resposta porque, nos últimos 15 anos, vivemos uma democratização importante”, diz. Ele cita o Chile como exemplo. “Nos últimos 25 anos, houve um processo bem-sucedido de fortalecimento das instituições, e isso sem alterar as bases da política econômica.” Infelizmente, há exemplos contrários. “Venezuela, Bolívia e Equador têm uma perspectiva de desenvolvimento frustrada”, diz Meza Pinto. A centralização de poder e frequentes expropriações tornam o ambiente desses países cada vez mais inóspito para o investimento externo. “O que está mais ameaçado na Venezuela são as liberdades individuais”, diz o professor de ciência política da Faculdade de Direito da UFPR Fabrício Tomio.
Fonte: Gazeta do Povo
Publicado em 13/06/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor do texto.