Disciplina - Geografia

Geografia

02/06/2010

Ideias para um planeta melhor

Sob coordenação do professor Wagner Costa Ribeiro, responsável pela área de Ciências Ambientais do IEA, este número levanta em especial a problemática ambiental do território brasileiro, sob os diversos enfoques de cada autor convidado. Na segunda parte do dossiê, a professora Eleonora Trajano, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP, reúne artigos sobre o tema “Gestão e estudos ambientais”. A seção “Textos” privilegiou ensaios voltados ao estudo da biodiversidade. As resenhas que fecham a edição têm assinatura de Cristóvam Buarque e Silvio Salinas. No artigo de abertura, Costa Ribeiro mostra que o conjunto de trabalhos que organizou é um prolongamento do evento “Desafios socioambientais para o século 21: homenagem a Aziz Ab’Saber”, uma realização conjunta do IEA com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação dos Geógrafos Brasileiros e o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Ocorrido em outubro de 2009, o conteúdo está disponível na página http://www.iea.usp.br/iea/online/midiateca/ambiente /index.html.
Após o editorial e o artigo de abertura assinados por Costa Ribeiro, o professor Ab’Saber aborda o “Zoneamento fisiográfico e ecológico do espaço total da Amazônia brasileira”, título de seu artigo que, como de costume, traz uma diversidade de desenhos cartográficos do próprio autor.
Ignacy Sachs fala de uma “revolução duplamente verde” em seu artigo “Barricadas de ontem, campos de futuro”. Retoma o tema de uma exposição apresentada em 2004 na 11ª United Nations Conference on Trade and Development (Unctad), em São Paulo, quando insistiu nas perspectivas de um novo ciclo de desenvolvimento rural nos países tropicais. Para o autor, “o desenvolvimento rural socialmente includente e em harmonia com o meio ambiente exige soluções intensivas em conhecimentos e mão-de-obra, econômicas em capital e recursos naturais”. “Não basta dizer que o desenvolvimento rural é necessário. Ainda é preciso mostrar que ele é possível”, diz Sachs. O autor recorre às estatísticas populacionais, indicando a divisão da humanidade entre campo e cidade e a incapacidade de as cidades, em 50 anos, absorverem bilhões de moradores caso o crescimento da população rural permaneça estacionário.
Sendo assim, resta desmistificar e rebater o que os céticos dizem sobre a nova civilização da biomassa. Muitos teóricos, em suas estimativas de necessidades em solos aráveis, raciocinam por justaposição das culturas, subestimando as sinergias entre diferentes cultivos e criações dentro de sistemas integrados de produção de alimentos e de energia, traz o texto. Sachs diz acreditar que é justamente a partir dos sistemas integrados de cultivos adaptados aos diferentes biomas que se deve começar o debate sobre o assunto. Em vez de renderem-se às evidências, as vozes céticas preferem permanecer “prisioneiras de um conceito de modernidade muito centrado no urbano e nas áreas de alta tecnologia, que falam à imaginação muito mais que os progressos da biotecnologia aplicados à agricultura e à química verde”. Cita a conquista do espaço, as nanotecnologias, a fusão nuclear e os satélites capazes de captar a energia solar no espaço como exemplos desse “conceito de modernidade”.
Clóvis Cavalcanti faz o contraponto entre a economia ortodoxa e a economia ecológica, no artigo “Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a economia ambiental”. O texto perpassa teóricos referenciais, descrevendo a diferença entre aqueles dois ramos do conhecimento. Cavalcanti fala da necessidade de superar a estreiteza disciplinar que impede uma visão de conjunto da problemática ecológico-econômica. Nesse contexto surge a economia ecológica, “sem dependência disciplinar, seja da economia, seja da ecologia, resultando, ao revés, numa tentativa de integração de ambas”, afirma. Na visão econômica tradicional, os impactos ambientais aparecem como fenômenos externos ao sistema econômico e representam falhas de mercado. Nessa visão, as chamadas externalidades podem ser internalizadas no sistema de preços e as falhas de mercado, corrigidas. “A economia ecológica vai surgir, porque cem anos de especialização da pesquisa científica deixaram o mundo incapaz de entender ou conduzir as interações entre os componentes humano e ambiental do planeta”, mostra Cavalcanti. Mas a economia ortodoxa encontra conflitos inerentes à tendência de valoração puramente monetária. E um tema central na economia ecológica é justamente a incomensurabilidade de valores diante do econômico. Essa nova perspectiva vê a economia humana como parte – ou subsistema – do todo maior que é a natureza e que a essa se submete de uma forma ou de outra, traz o texto.
O professor José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, assina o artigo “Indicadores de sustentabilidade”. José Augusto Pádua aborda “As bases teóricas da história ambiental”. O dossiê traz ainda autores como Henri Acselrad, Sérgio Abranches, Eleonora Trajano, Helena Ribeiro, Roberto Varjabedian e outros. A edição está disponível online pelo site do Scielo, no link:
www.scielo.br
Fonte: Jornal da USP
Publicado em 23/05/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor do texto.
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