Disciplina - Geografia

Geografia

15/05/2010

Dimensões do espaço turístico

O livro é resultado de seminários realizados pelo grupo de pesquisa Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural, pertencente ao Laboratório de Geografia Urbana do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A coletânea com oito artigos analisa e faz uma interpretação geográfica dos nexos entre patrimônio cultural, turismo e território. De acordo com uma das organizadoras do livro, Maria Tereza Paes, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Unicamp, a proposta foi intencional. “A coletânea tem o objetivo de demarcar o território para uma abordagem geográfica do patrimônio cultural, área que tradicionalmente é tratada por historiadores, urbanistas e arqueólogos. E a geografia praticamente não tem tradição nessa área”, disse à Agência FAPESP.
Segundo a pesquisadora – que faz a introdução da obra –, o conceito de “paisagem cultural” já era objeto de reflexão da geografia na década década de 1920 com a geografia cultural de Karl Sauer. “Com a supervalorização da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a partir da ampliação do debate e dos processos de tombamento, as paisagens culturais, por exemplo, ressurgem para a nossa reflexão com mais intensidade", disse. A coletânea é o primeiro livro do grupo de pesquisa e recebeu apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações. Segundo Maria Tereza, foram convidados somente geógrafos que haviam participado dos dois primeiros seminários realizados em 2004 e 2005, além de quatro orientandos de mestrado. O lançamento oficial será durante o 3º Seminário de Geografia, Turismo e Patrimônio Cultural, que será realizado nos dias 13 e 14 de maio, na Unicamp.
Um dos conceitos discutidos na obra é o de “refuncionalização” do patrimônio cultural. De acordo com a organizadora, nos projetos e planos locais de políticas públicas é muito comum ouvir falar em “requalificação”, “reabilitação” ou “revitalização” quando se fala em patrimônio cultural. “Para a geografia, quando discutimos patrimônio cultural, esse processo histórico e político de seleção de bens e paisagens é pensado em termos de produção do espaço. Enquanto isso, a refuncionalização do patrimônio implica em trazer novas funções às formas passadas, sejam elas artificiais ou naturais, pois também o chamado patrimônio natural envolve um processo de seleção. A partir do momento em que a natureza é patrimonializada e tombada, ela ganha um valor cultural e político", disse Maria Tereza. Segundo a pesquisadora, mesmo o chamado patrimônio imaterial não pode prescindir da escala espacial. “É aí que se vê a importância da geografia que trabalha com as lógicas espaciais, com a produção do espaço e com a forma de apropriação e de valorização do território”, apontou.
Outro aspecto analisado na obra é o que a pesquisadora compreende como “redução narrativa, contribuição de Vicent Berdoulay, seu colaborador francês, a partir da espetacularização da imagem”, que é a sua utilização como uma ideologia espacial. “As políticas públicas para o turismo investem em determinadas imagens, personificadas em cartão-postal para vender e valorizar as localidades. Há uma eleição de uma imagem que deve ser priorizada e, por consequência, escondem-se outras”, disse. Ela ilustra a discussão com os casos de Ouro Preto (MG), São Luiz de Paraitinga (SP) e do Pelourinho em Salvador, que são analisados em quatro capítulos do livro. “A imagem do Carnaval de Paraitinga, que ilustra a capa, é contrastante com a de uma cidade interiorana, pacata e caipira. Mas o objetivo é valorizar a cena, o espetáculo”, disse.
Preservação do patrimônio
O primeiro capítulo, Turismo e patrimônio, entre a cultura e o negócio, foi escrito por Rodolfo Bertoncello, da Universidade de Buenos Aires. “Ele discute como pensar o patrimônio, a valorização, o desenvolvimento turístico e o desenvolvimento local. Entra na discussão da valorização turística do patrimônio, principalmente a partir da década de 1990, em um momento em que o patrimônio cultural já tinha virado um produto comercial internacional, diferentemente de países como a França, por exemplo”, disse Maria Tereza. “Mas, atualmente, estamos em um momento importante de valorização do patrimônio, não só com preocupação no turismo, mas também com a permanência das populações locais. O turismo não é ruim, traz aporte financeiro, interesses e projetos. A questão é não tornar demasiadamente turístico, como se fosse somente essa lógica possível para pensar o patrimônio”, afirmou. Segundo ela, o patrimônio cultural tem de fazer sentido para a população, e não só para o olhar do turista, que é um olhar transitório e efêmero. “Hoje, temos políticas preocupadas com o desenvolvimento local, além de uma maior preocupação na preservação do patrimônio e na estruturação urbana para essas populações”, disse.
No capítulo Geotecnologias e patrimônio arquitetônico: potencialidades no mapeamento e análise para fins turísticos, de Lindon Fonseca Matias, professor do Departamento de Geografia da Unicamp, é oferecida uma contribuição mais aplicada às finalidades do planejamento e gestão de atividades em sítios urbanos. “O emprego e a produção de técnicas de geogerenciamento, de documentos cartográficos e de novas geotecnologias são apresentadas de maneira didática, visando a instrumentalizar o planejamento territorial na gestão das cidades turísticas. No texto, o autor também fornece uma contribuição do ponto de vista do conhecimento geográfico a partir das novas dimensões que são apresentadas para a compreensão do processo de produção do espaço”, disse Maria Tereza.
Serviço
Título: Geografia, turismo e patrimônio cultural
Autores: Maria Tereza Duarte Paes / Melissa Ramos da Silva Oliveira (organizadoras)
Mais informações: www.annablume.com.br
Fonte: Agência Fapesp
Publicado em 06/05/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor do texto.
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