Disciplina - Geografia

Geografia

05/05/2010

Um vulcão quase inofensivo

A nuvem vulcânica que cobriu a Europa, causando transtornos aos passageiros que tiveram voos cancelados nos principais aeroportos do velho continente, não deve gerar impacto meteorológico suficiente para neutralizar o aquecimento global, tampouco deixar prejuízo ambiental significativo. As cinzas expelidas pelo vulcão islandês podem causar chuva ácida, mas apenas na região próxima à erupção, e não devem causar um resfriamento perceptível. “A última grande erupção vulcânica registrada no planeta ocorreu no Monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991”, lembra o pesquisador Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesqui­­sas Espaciais (Inpe), em Bra­­gança Paulista (SP). “Este vulcão islandês é pelo menos 100 vezes mais fraco.” Nas camadas superiores da atmosfera, as partículas expelidas pelos vulcões podem atuar como bloqueadores solares. Na erupção do Pinatubo, essa ação foi suficiente para reverter o chamado efeito estufa por dois anos. No caso do Eyjafjallajokull, a erupção produziu uma quantidade muito pequena de emissões, lançadas a altitudes bem mais baixas.
Peculiaridades
O professor Umberto Cordani, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), destaca as características peculiares dos vulcões islandeses. “Na Islândia há muitos centros eruptivos, mas não há grandes edifícios vulcânicos cônicos, como o Vesúvio, o Monte Fuji ou os vulcões do Havaí”, compara. “As erupções da Islândia ocorrem ao longo de grandes fraturas da crosta, perfeitamente conhecidas pelos habitantes da ilha.” Segundo o professor, normalmente a atividade vulcânica da Islândia afeta apenas as vizinhanças, dentro de um raio de no máximo algumas dezenas de quilômetros. “O azar da Europa é que nessa erupção as cinzas foram muito para o alto – mas sem atingir a estratosfera, como no caso do Pinatubo –, e fortes correntes na troposfera (camada atmosférica que se estende da superfície da Terra até a base da estratosfera) as levaram milhares de quilômetros para leste e sudeste”, explica. “Isso não foi normal: o normal seria o vulcão dispersar as suas cinzas nas proximidades.”
Efeitos
O primeiro efeito ambiental é um rastro de destruição nas proximidades das atividades vulcânicas. “Mais tarde há, porém, benefícios, porque o material expelido forma solos muito férteis”, ressalta Cordani. O professor explica que a duração dos eventos explosivos não costuma ser grande. “Trata-se de dias ou semanas”, diz. “No caso das lavas, que são expelidas quando as atividades explosivas cessam, a duração pode ser maior. Há vulcões com lavas fluidas como por exemplo o Kilauea, no Havaí, cuja erupção atual começou nos anos 70, portanto já tem mais de 30 anos de duração.” Segundo Cordani, dependendo da altura que as cinzas atingem e de sua quantidade, pode haver efeito sobre a temperatura do planeta. No caso do Pinatubo, em que as cinzas permaneceram durante dois anos na atmosfera, calculou-se um resfriamento de aproximadamente 0,5°C. Sobre o Eyjafjallajokull, o professor é enfático. “Não há consequências de longo prazo sobre o clima”, garante. “Pode haver alterações no tempo, com maior nebulosidade nas áreas mais próximas ao vulcão, mas não se pode falar em mudança climática”, confirma o meteorologista Samuel Braun, do Instituto Tecnológico Si­­me­­par, de Curitiba. “Para avaliar o impacto no clima é preciso acompanhar a média de um período de 30 anos.”
Fonte: Gazeta do Povo
Publicado em 05/05/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor do texto.
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