Disciplina - Geografia

Geografia

13/11/2007

Medo e a insegurança "asfixiam" moradores das favelas

A vida dos moradores das favelas cariocas, afetada diariamente pelo medo e a violência causados pelo tráfico e pela atuação despreparada da polícia nesse combate, é o tema estudado na pesquisa "Rompendo o cerceamento da palavra: a voz dos favelados em busca de reconhecimento", coordenada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e Instituto Universitária de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). A pesquisa foi realizada com 150 moradores, de 45 favelas cariocas, entre 2005 e 2007, em uma tentativa de romper a "lei do silêncio" nas comunidades quando o assunto é violência.
O que os pesquisadores mais ouviram foram críticas generalizadas à atuação policial nas comunidades, que as operações não distinguem "pessoas de bem" de "marginais". Os pesquisadores entrevistaram moradores em 15 grupos focais e em três favelas de diferentes perfis - uma tida como "tranqüila" (sem tráfico nem grandes operações policiais), outra violenta e uma terceira onde há a presença de grupos de milícia (os nomes das comunidades não podem ser identificados por motivo de segurança) - foram feitas entrevistas em profundidade com moradores quinze moradores.
Os moradores das comunidades entrevistadas convivem com uma "sociabilidade violenta", na qual a vida de todos, mas a especialmente a dos jovens, sofre interferências significativas, existindo até horários e espaços permitidos, ou proibidos. O medo e a insegurança das pessoas que vivem nessas áreas de extrema violência levam-nas a uma situação de "asfixia", pois nada pode ser falado, e faz com que elas deleguem, mesmo que implicitamente, aos policiais poder para atuar nesses territórios indo além do uso da "força comedida" que é sua função institucional.
No entanto, embora os moradores queriam polícia e segurança nas favelas, segundo a Pesquisa, eles consideram imprescindível "uma mudança profunda nas atividades policias de rotina e o fim das "operações". Os entrevistados criticaram a inação policial nos postos situados nas localidades e a corrupção dos agentes e deixaram claro que, mesmo com está "delegação" de permissão para a atuação policial, os moradores continuam sem confiar na polícia e nas instituições estatais.
Em relação à presença de traficantes nas comunidades, a posição dos moradores é de que essa é uma convivência "forçada e não desejada", permeada pela violência, arbitrariedade e brutalidade. Muitos dos entrevistados têm parentes que de alguma maneira atuam no esquema do tráfico, mas procuram manter-se distante deles. A distância dos que atuam na criminalidade é buscada tanto nos espaços público, quanto dentro das próprias favelas.
Há um permanente esforço dos moradores para enfrentar o preconceito contra quem mora nas favelas, eles querem "provar ao restante da população da cidade que são pessoas "de bem", honestas, confiáveis, pacíficas e sem participação ativa na "sociabilidade violenta" ". Mas têm que conviver com a desconfiança, explicitada nas atuações policiais, "são recorrentes e intensas as reclamações quanto às diferenças de tratamento no "asfalto" e na "favela", o que é atribuído aos estereótipos e preconceitos".
Dentro das próprias favelas a desconfiança enfraquece os laços sociais e a comunicação baseada em relações de vizinhança, dificultando a construção das bases para uma ação coletiva orgânica e bem focada. Para os pesquisadores, "a ação coletiva depara-se com a dificuldade de formular reivindicações sobre assuntos relacionados à segurança nesses territórios e mobilizar o apoio dos moradores, dificultando sua inserção nas agendas de debates do espaço público".
O estudo desmente o mito de que os traficantes substituem o Estado nas favelas, "embora seja verdade que a presença deste último nestas áreas não é igual à do restante da cidade".O fato de os bandos de traficantes subjugarem os moradores, não significa que o tráfico é um substituto do Estado nas favelas.
Para os pesquisadores, as "milícias" - grupos paramilitares compostos em geral por policiais da ativa ou ex-policiais, bombeiros, muito bem armados, e que nos últimos anos estão se fortalecendo na cidade -, dão aos moradores uma sensação de segurança pessoal que disfarça as coerções que sofrem, pois com o pretexto de impedir a presença dos traficantes, elas constroem verdadeiras organizações econômicas, com a cobrança de proteção e o monopólio de algumas atividades locais (transporte alternativo, comércio de bujão de gás, distribuição de sinal roubado de televisão a cabo, etc.).

Fonte: Adital, 09 de novembro de 2007
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