Disciplina - Geografia

Geografia

26/05/2009

Carros: precisamos deles tanto assim?

Reformam-se cidades para servir a esses pequenos tiranos, perdendo em tranquilidade, ar puro e convívio humano. O apego aos carros tornou-se tão intenso que, mesmo estando o planeta mergulhado numa grave crise ambiental, em grande parte causada pelo seu uso, ainda há muita resistência em abrir mão desse conforto. Pelo contrário, ele continua sendo o sonho de consumo de muitos. Como resolver esse quadro? No plano individual, pegar num volante traz uma agradável sensação de liberdade. Ter um automóvel à disposição dá mais autonomia no ir-e-vir e agilidade para compromissos, encontros, trabalho, diversão etc. No entanto, isola seu condutor de um contato mais estreito com as ruas que percorre e as pessoas pelas quais passa, e, não raro, leva-o a mergulhar numa pressa sem propósito. Pressa que se traduz em competição, na qual se dão fechadas, disputam-se centímetros de espaço e se acelera em ultrapassagens sem razão, só para ficar parado num semáforo metros adiante. No plano coletivo, essa situação multiplicada por milhões de veículos pelas ruas ou estradas causa um stress constante, não só para as pessoas, mas também para os locais cortados por rodovias ou grandes avenidas. E afeta ainda quem mora em torno das áreas de muito tráfego ou viaja nos ônibus – que também participam dessa disputa e cooperam para congestionamentos que em muitas localidades não estão mais restritos aos horários de pico. Afeta, sobretudo, o clima na Terra. É, portanto, um cenário que pede mudanças urgentes.
Conciliando interesses
Algumas iniciativas pelo mundo afora estão mostrando que é possível modificar essa realidade, de forma criativa e inovadora. Tudo seria bem mais simples se desde o início as cidades fossem planejadas priorizando o transporte público e serviços bem distribuídos, como imagina J. H. Crawford, autor do livro Car Free Cities (Cidades Livres de Carros). Em sua obra, ele descreve um inteligente sistema para organizar o espaço e o dia-a-dia urbanos, de forma a anular a necessidade de caminhões, ônibus e veículos particulares, até mesmo em cidades já existentes. Seu pensamento alinha-se com o movimento internacional formado por inúmeras iniciativas reunidas na World Carfree Network (Rede por um Mundo Livre de Carros, surgida a partir das atividades da ONG Car Busters. Mas talvez esta seja mesmo uma tendência muito radical, considerando todo o valor afetivo que (ainda) é atribuído aos veículos automotores por grande parcela da humanidade. Uma alternativa mais branda, e que já prepara a transição necessária, é o sistema de compartilhamento de veículos chamado de Car Sharing, um tipo diferente de aluguel praticado na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos. Os carros ficam estacionados em diferentes pontos da cidade à disposição do usuário, que paga pelo tempo de utilização, podendo pegá-los numa região e entregá-los em outra. O modelo pode ser escolhido de acordo com a necessidade de cada viagem, incluindo até mesmo vans e pequenos utilitários. Os argumentos de seus criadores é que esse sistema ajuda as pessoas a se libertarem do hábito de possuir um carro. Ele é ideal para quem não precisa do veículo para ir ao trabalho todos os dias e dirige menos de 12 mil km por ano. Lançado na Suíça em 1987, o sistema estendeu-se para a Alemanha no ano seguinte e chegou ao Canadá, via Québec, em 1993.
É interessante ver surgir tantas alternativas e novas tecnologias, como carros elétricos ou o moderno carro solar Koenigsegg Quant. É louvável a oferta de modelos acessíveis a todos, como o indiano Tata Nano, projetado para ser o carro mais barato do mundo. Mas a verdade é que continuar a ampliar a presença de automóveis no globo é um ato de enorme imprudência. Já passou da hora de recolocarmos as pessoas e o convívio humano como foco central do planejamento urbano e recuperar a qualidade de vida que o número excessivo de carros tirou de nós.
Por Neuza Árbocz, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos
Fonte: http://envolverde.ig.com.br (adaptado)
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