Disciplina - Geografia

Geografia

21/04/2009

Línguas nativas perto da extinção

A extinção média de dois idiomas nativos por ano foi mais acentuada nos tempos da colonização e do Império, com resquícios na República, já na década de 70, quando atingiu etnias de Rondônia e do Mato Grosso. Apesar da desaceleração, pelo menos 20 das quase 170 línguas sobreviventes estão em perigo. No Paraná, a língua xetá, original da última aldeia descoberta no estado, nos anos 40, é uma das mais ameaçadas. A alarmante constatação: a devastação marcou todo o território nacional, com maior intensidade nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. As línguas foram quase todas extintas, sem deixar vestígios. Projetos de universidades, entidades de proteção da causa indígena e do governo tentam amenizar o estrago. Porém, o esforço de identificar, comparar, normatizar, catalogar e salvar os idiomas nativos corre na velocidade contrária à do processo de extinção.
Programa fará o resgate de 20 a 35 idiomas Lançado na quarta-feira, o programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas Brasileiras, coordenado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em parceria com o Museu do Índio, do Rio de Janeiro, terá como meta fortalecer 20 línguas nativas ameaçadas no país, podendo chegar a 35. A lista será divulgada segunda-feira no Diário Oficial da União. O registro desses idiomas será feito com o auxílio de equipamentos digitais entregues aos jovens índios para o registro das formas de comunicação utilizadas em distintas aldeias. Será criado um acervo digital e as línguas poderão contar ainda com um dicionário, uma gramática básica, mídias de divulgação e publicações científicas. O programa abrangerá todo o país, inclusive o Paraná, neste caso para a preservação do xetá. A primeira etapa consistirá em um levantamento sóciolinguístico dos idiomas definidos de acordo com o número de falantes, o grau de ameaça e o tamanho da população que a utiliza.“Para termos o maior volume possível de informações, estamos elaborando um questionário adequado às diferentes realidades das aldeias brasileiras”, diz a professora Bruna Franchetto, uma das coordenadoras do programa, ao explicar que a língua xetá é um exemplo da incerteza sobre o número de pessoas que ainda falam o idioma. Das línguas sobreviventes, só 15% delas têm mais de mil falantes e 25% reúnem no máximo 50 praticantes. Desde 2001, morreram os últimos falantes de cinco delas. Hoje, os xetás se reduzem a sete integrantes puros, sem mistura com outras etnias. São menos de 100 as pessoas no país com sangue xetá, espalhados pelo Norte do Paraná, em Santa Catarina e São Paulo. Apenas dois descendentes, em idade avançada, ainda teriam o domínio da língua.As principais causas do extermínio linguístico seriam as alterações nas tradições culturais indígenas e a falta de transmissão entre as gerações. A proximidade dos meios urbanos afasta os jovens dos costumes originais e uma alternativa para frear a aculturação seria implantar mais escolas indígenas nas aldeias, iniciativa que ganhou espaço na Região Oeste, onde há três aldeias avá-guarani, perto do reservatório de Itaipu. Na quarta-feira, a aldeia Tekohá Añetete, em Diamante d’Oeste, ganhou uma escola estadual em sede própria.Sessenta alunos da aldeia já vinham tendo aulas da educação infantil ao ensino fundamental em regime bilíngue português-guarani, desde agosto, no prédio do Centro Cultural Ambiental. Com capacidade para 350 alunos, a unidade, a exemplo da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, adota o currículo definido pelo Ministério da Educação associado à cultura e tradição guarani. “A educação de qualidade dos índios é fundamental para preservarmos nossa memória e para a sociedade aprender a respeitar nosso povo”, diz o cacique João Alves. Na região de Curitiba, missionários da Primeira Igreja Batista fazem um trabalho semelhante de auxílio à manutenção dos costumes indígenas. Índios da tribo Araça-i, na reserva de preservação ambiental da Sanepar, em Piraquara, também têm uma escola bilíngue. “Entre eles, o idioma oficial é o guarani. Mas, a necessidade de se comunicar além dos limites da aldeia fez com que muitos quisessem aprender o português”, diz o seminarista Rodrigo Florêncio. Além das crianças em processo de alfabetização, adultos estão tendo aula.

Fonte: http://portal.rpc.com.br
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