Disciplina - Geografia

Geografia

20/02/2009

Darwin multidisciplinar

Por Fábio de Castro

A contribuição de Charles Darwin (1809-1882) à sociedade transcende a biologia e o próprio universo acadêmico.Essa é a idéia central do livro Charles Darwin – Em um futuro não tão distante, lançado nesta terça-feira (17/2) em São Paulo.
A coletânea de artigos, que comemora o bicentenário do nascimento do naturalista britânico e os 150 anos da publicação de sua principal obra, A Origem das Espécies, baseia-se no ciclo de palestras realizado no Rio de Janeiro em associação com a exposição Darwin, em 2008, pelo Instituto Sangari.
Organizado por Maria Isabel Landim e Cristiano Rangel Moreira, pesquisadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e co-curadores da exposição, o livro enfoca, sob o ponto de vista de diferentes áreas, aspectos da biografia e da teoria de Darwin.
De acordo com a organizadora, um dos principais objetivos da obra é apresentar ao grande público a contemporaneidade do pensamento evolutivo.
“Procuramos condensar no livro os diversos pontos de vista apresentados no ciclo de palestras, que mostravam como as ideias de Darwin ultrapassam as ciências da vida e ajudam a compreender uma série de fenômenos que não costumamos rotular como biológicos”, disse Maria Isabel à Agência FAPESP.
O primeiro capítulo da obra, de autoria dos próprios organizadores, foi produzido exclusivamente para o livro e concentra os aspectos biográficos. Segundo Maria Isabel, além de situar os leitores pouco familiarizados com a vida de Darwin, o capítulo também apresenta uma interpretação atual sobre sua biografia.
“Procuramos situar a figura de Darwin na própria teoria evolutiva contemporânea, mostrando as diversas transformações que ela sofreu durante esses 150 anos e apontando os aspectos que gostaríamos que tivessem mudado, mas que permanecem inalterados no senso comum”, disse.
Um dos capítulos foi escrito por Armando Bittencourt, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha. “Apaixonado pela história das expedições científicas no Brasil, ele traça um paralelo entre as viagens de Darwin, Alfred Wallace e Henry Bates ao país”, disse Maria Isabel.
Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP, revê alguns temas darwinianos, desfazendo certos mitos sobre o naturalista. “Ele derruba, por exemplo, o mito de que A Origem das Espécies teria sido um best-seller na época. Na verdade, foi apurado que os livreiros faziam uma espécie de venda casada, ‘empurrando’ o livro de Darwin para quem quisesse comprar outros títulos mais populares”, contou.
Comportamento e desenvolvimento
Mario Pinna, do Museu de Zoologia da USP, apresenta uma introdução à perspectiva evolutiva. “Ele traça os principais aspectos da lógica do pensamento evolutivo para o grande público, mostrando como isso se reflete nas classificações biológicas hoje conhecidas”, disse Maria Isabel.
O capítulo de autoria de Suzana Herculano-Houzel, professora do Departamento de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa o cérebro humano sob a perspectiva da evolução.
“A partir das pesquisas desenvolvidas em seu laboratório, a professora estabeleceu a ‘receita’ da construção de um cérebro de grandes grupos de mamíferos. Com isso, ela demonstrou que nosso cérebro não tem nenhum ingrediente especial. É apenas um cérebro de um primata de grande porte”, explicou.
Cesar Ades, professor do Instituto de Psicologia da USP e diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da mesma universidade, escreveu o capítulo que gerou o subtítulo do livro: Num futuro não tão distante: Darwin e a ciência do comportamento.
“Ele propõe que hoje, dentro do prognóstico feito pelo próprio Darwin, a teoria evolutiva já contribui para a compreensão do comportamento humano”, disse Maria Isabel.
Sérgio Pena, professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em seu capítulo, desconstrói o fundamento bioideológico da separação da humanidade em “raças”, por meio de um detalhado histórico da origem desse conceito por meio de análises genéticas. “A proposta é que a divisão possível para a atual diversidade humana estaria em 6 bilhões de indivíduos”, disse a pesquisadora.
No último capítulo, o economista Sérgio Besserman, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, discute como o pensamento de Darwin pode ajudar a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável.
“Esse capítulo destaca as mudanças comportamentais que nos serão exigidas no século 21 para lidar com crises como a do aquecimento global”, disse Maria Isabel.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br
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