Disciplina - Geografia

Geografia

08/11/2008

Emergentes se unem contra a crise

Ministros das finanças e presidentes de bancos centrais da Índia, África do Sul, Brasil, China e México.
Os governos dos principais países emergentes decidiram nesta sexta-feira (07) coordenar suas ações na formulação de políticas para contornar a crise financeira mundial e promover a reforma do sistema financeiro internacional. O diálogo entre os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais dos chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), mais o México e a África do Sul, foi detalhado no final da tarde pelo ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega.
“Os BRICs decidiram coordenar melhor suas ações, estreitar sua relação econômica, trocar mais informações e potencializar nossa atuação”, disse o ministro em entrevista coletiva. Ele destacou que as regras existentes hoje para fiscalizar as finanças internacionais e as instituições responsáveis por essa tarefa, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), não conseguiram detectar os problemas e evitar que a crise eclodisse.
Segundo ele, faltam regras mais sólidas para controlar as transações financeiras internacionais, maior fiscalização e transparência nas instituições. Além de novas regras, Mantega destacou que os emergentes querem a reformulação das entidades multilaterais que atuam no setor para que esses países passem a ter mais peso.
“Os BRICs e o G-4 (África do Sul, Brasil, China e Índia) não têm voz ativa, são dirigidos por instituições das décadas de 40 e 50, quando os Estados Unidos e os países europeus representavam o grosso da economia mundial. Hoje os emergentes representam 75% do crescimento do mundo, mas temos representação minoritária”, declarou.
Nesse sentido, ele destacou que o Brasil e outros países têm condições de ampliar sua participação acionária no FMI, por exemplo, por meio da injeção de mais dinheiro e ampliação de suas responsabilidades. “Nenhum dos BRICs disse que não está disposto a colocar mais recursos, todos eles têm dinheiro, têm reservas. Eles apenas reivindicam uma participação maior”, declarou. “Hoje é o Fundo que não quer nos dar uma participação acionária maior”, acrescentou.
Mais do que reestruturar o FMI e o Bird, Mantega defende a criação de outras organizações, como uma espécie de CVM mundial, ou o fortalecimento de entidades que já existem, como o próprio G-20, grupo que reúne as 20 principais economias do mundo e poderia ter seus poderes ampliados para funcionar de forma semelhante ao G-7, que congrega apenas os países mais ricos. “O G-20 poderia ter uma atuação mais importante, mais direta nas crises, deixar de ser só um fórum de reflexão”, afirmou.
Esta é a posição que o Brasil e outros emergentes vão defender na reunião entre ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, que ocorre neste final de semana em São Paulo. De acordo com Mantega, poderia ser discutida a transformação do grupo em um bloco de chefes de estado, com maior autonomia para tomar decisões.
“A crise só pode ser combatida com coordenação entre os países, não de forma individual”, disse o ministro. “Recusamos a participar de um G-7 ou um G-8 (G-7 mais a Rússia) como meros tomadores de cafezinho”, acrescentou.
Apoio dos ricos
Os emergentes concluíram que a culpa pela crise é dos Estados Unidos e de países europeus, que não tomaram as devidas cautelas para evitá-la, mas agora a turbulência se espalhou pelo mundo e ameaça as nações em desenvolvimento. Mantega destacou que os emergentes querem que os países ricos tomem medidas adicionais para restabelecer as linhas internacionais de crédito e a confiança na economia global. “Já foram tomadas medidas corretas, mas não são suficientes para restabelecer o crédito e a confiança, para que a economia possa retomar o crescimento”, declarou.
Entre as ações ele destacou a compra de “ativos tóxicos” que ainda estão em circulação para retomar a confiança no sistema financeiro. “É preciso uma ação mais rápida para identificar e cercear esses ativos”, disse. Só assim, segundo Mantega, as instituições financeiras vão saber quais bancos ainda têm títulos sub-prime e quais não têm, abrindo a possibilidade de reativação dos empréstimos interbancários. Ou seja, os bancos precisam saber que estão emprestando para instituições sólidas.
Outro ponto é a adoção de medidas “anticíclicas” para reagir “à onda de desaceleração “econômica”. Isso inclui o relaxamento de políticas fiscais e monetárias para garantir investimentos públicos, ou até ampliá-los, e diminuir as taxas de juros.
O ministro ressaltou que os países ricos têm mostrado disposição na adoção de medidas, no apoio à criação de novas regras e ampliação da participação dos emergentes nas instâncias internacionais de decisão. Exemplo disso, segundo ele, foi a participação do presidente norte-americano, George W. Bush, na última reunião extraordinária do G-20 e a iniciativa de Bush de convocar uma reunião de chefes de estado e governo do bloco para os dias 14 e 15 de novembro, em Washington. “Pela gravidade da crise, os países ricos têm mostrado disposição maior para ampliar a participação dos emergentes”, declarou.
Outra prova, de acordo com Mantega, foi a redução da taxa básica de juros de 4,5% ao ano para 3% anunciada esta semana pelo Banco da Inglaterra, assim como a diminuição da taxa do Banco Central Europeu de 4,25% para 3,5%. “Há uma tendência mundial de redução das taxas de juros, significa fazer uma política monetária expansionista”, declarou.
No caso do Brasil, ele destacou que os últimos indicadores mostram que a atividade econômica continua em “alta velocidade”, mas em caso de desaceleração não está descartada mudança na política monetária. O Banco Central vinha ampliando a taxa de juros, mas na última reunião do Comitê de Política Monetária foi mantido o percentual.
Para o ministro, a convergência entre países emergentes e ricos sobre as medidas que devem ser tomadas nunca foi tão grande “Até aqui todos estão indo na mesma direção. Talvez haja divergência quando formos definir a questão das instituições reguladoras. Mas não vamos colocar a carroça na frente dois bois”, ressaltou. “Agora é o momento do pragmatismo mundial”, acrescentou.
Ele disse também que a eleição do senador Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos deverá dar novo fôlego para que o governo norte-americano possa enfrenta a crise, por causa de seu amplo respaldo eleitoral e pela equipe de economistas competentes que está reunindo. Para Mantega, uma das medidas que podem ser tomadas é o socorro aos norte-americanos que estão perdendo suas casas pela falta de pagamento das hipotecas. “Isso já diminuiria a quantidade de ativos tóxicos”, afirmou.
Mantega defendeu ainda a continuidade da Rodada Doha de liberalização do comércio. “Precisamos manter o comércio aberto, estimular a competitividade e retomar a rodada. O momento é agora. Isso será um antídoto contra o movimento protecionista”, declarou.
As propostas discutidas pelos ministros este final de semana serão levadas aos chefes de estado e governo para que eles dêem encaminhamento às medidas na reunião dos dias 14 e 15 em Washington.

Fonte:http://www.anba.com.br/noticia_macro.kmf?cod=7863678

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