Disciplina - Geografia

Geografia

02/09/2008

Escalpelamento de mulheres mancha de sangue os rios amazônicos

Trata-se do escalpelamento de centenas de mulheres amazônicas, que têm o couro cabeludo arrancado bruscamente de forma parcial ou total pelos motores dos barcos em que viajam de uma cidade para a outra da região.
Na Amazônia, onde o barco é o principal meio de transporte e de sobrevivência, esse tipo de acidente acontece com assustadora frequência.  E ocorrem em embarcações precárias onde não existe proteção do eixo dos motores e das hélices.  Assim , quando as vítimas se aproximam do motor ou das hélices do barco, têm seus cabelos repentinamente puxados pelo eixo.
Segundo informou nesta segunda-feira, 01/09, em discurso no Senado, o médico e senador Papaléu Paes (PSDB-AP), uma forte rotação ininterrupta do motor enrola os cabelos das mulheres em torno do eixo e arranca todo ou parte do escalpo, orelhas, sobrancelhas, uma enorme parte da pele do rosto e do pescoço.  Nos homens, segundo o senador, a rotação do motor chega até a arrancar os órgãos genitais.  O escalpelamento das mulheres amazônicas leva à deformações graves, traumas psicológicos e até a morte.
A deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP) apresentou o projeto de lei 1.531/2007, já aprovado na Câmara e em tramitação no Senado Federal, que obriga instalar a proteção sobre o eixo e o motor das embarcações em todo o território nacional para evitar o escalpelamento.  O objetivo da proposta é reduzir e erradicar a ocorrência dos acidentes nos barcos a motor que causam escalpelamento e mutilações, principalmente em mulheres e crianças.
"Precisamos agir para prevenir e erradicar os acidentes", afirmou a deputada.  Para atender ao projeto da deputada Janete Capiberibe e à mobilização das Associação das Vítimas de Escalpelamento do Amapá, a Fundacentro, do Ministério do Trabalho, está testando um protótipo de proteção feita com fibra de vidro - de baixo custo, de fácil fabricação e instalação e de grande resistência - para ser usada nas embarcações que já estão em uso pelos pescadores e ribeirinhos.
Na presidência da Comissão da Amazônia, a deputada Janete Capiberibe sugeriu a implantação de uma política pública de navegação fluvial na região pelo governo federal.  Um grupo de trabalho dentro do governo, criado a pedido da deputada, está debatendo o assunto.
Janete Capiberibe defende que a política pública englobe ações de fomento desde a engenharia e o financiamento subsidiado para a construção das embarcações, até a formação de construtores e condutores em escolas de navegação, estaleiros-escola e centro de engenharia naval.  "Na Amazônia, usamos os barcos em todas as nossas atividades.  Fazem parte da nossa vida.  Precisamos aperfeiçoar o conhecimento tradicional e incluí-los nas políticas públicas", completou a deputada.
Mulheres são 80% das vítimas
O médico e deputado federal Sebastião Bala Rocha (PDT-AP) lembrou que levantamento feito pela Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres do Amapá mostra que 80% das vítimas do escalpelamento são do sexo feminino, que têm geralmente os cabeços compridos, que ficam soltos ao vento.  O deputado apresentou projeto de lei criando o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento para chamar a atenção desse grave problema social amazônico.
De acordo com o senador Papaléu Paes, na maioria dos acidentes o escalpelamento é total, ou seja, todo couro cabeludo é arrancado e os cabelos e a pele não voltam a crescer.  Em discurso no Senado, Paes lembrou que, no ano passado, aconteceu a primeira audiência pública sobre escalpelamento na Amazônia, trazendo para o debate público um assunto que era, até então, desconhecido por autoridades e por grande parte da população brasileira.
"O evento causou imensa comoção e mobilização.  E já neste ano de 2008 foi dado mais um pequeno passo.  Foi formado após encontro com o presidente Luis Inácio Lula da Silva, o primeiro grupo de trabalho do governo federal para unir ações em prol do problema", assinalou o senador.  O senador destacou que ainda este ano há uma grande oportunidade de levar o assunto ao conhecimento público, de criar mecanismos de prevenção e, sobretudo, de buscar recursos junto à medicina para minimizar as seqüelas físicas traumáticas dos acidentados.
Brasília, a capital federal, foi escolhida para sediar este ano o quadragésimo quinto Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, reunindo cerca de três mil especialistas da cirurgia reparadora de todo o Brasil e de diversos outros países.
"Esses doutores estarão aqui, bem próximos do poder central e desde já eu desejo incitar esta casa para que o poder Legislativo se faça representar nesse encontro para ouvir daqueles senhores alguma palavra de esperança sobre tratamentos possíveis dos sequelados, nesta e em outras tantas vivências dolorosas", assinalou o senador.
Em discurso, Papaléu Paes lembrou que a bancada de médicos é expressiva na Câmara Federal.  E no Senado, além dele, há médicos como Tião Viana, primeiro vice-presidente da casa, Mão Santa, Mozarildo Cavalcante, Rosalba Cearlini e Augusto Botelho.
Segundo o senador amapaense, em alguns debates tem sido dito que a medicina ainda não aperfeiçoou a cirurgia plástica para os casos de escalpelamento e as vítimas são obrigadas a conviver com deformações físicas.  "É uma avaliação prematura.  Vamos ouvir quem conhece do assunto.  Vamos levar àqueles doutores que estarão reunidos na capital brasileira as nossas angústias, as nossas esperanças e o apelo dos sequelados", ressaltou Paes.
Papaléu chamou seus colegas senadores médicos para buscarem subsídios junto à Sociedade Brasiliense de Cirurgia Plástica visando fortalecer os núcleos de cirurgia plástica em estados como os da região Norte, por exemplo, tão carentes dessa especialidade.
"Vamos insistir na dotação dos hospitais públicos de serviços efetivos desse ramo da medicina, que vai além, muito além dos apelos estéticos do mundo moderno e respondem, na verdade, a soluções que devolvem a saúde, a alegria, o bem estar, a auto-estima de um número sem fim de homens e de mulheres", completou o senador.

Fonte:http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?
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