Banana era artigo de luxo na Alemanha Oriental
por: Carolina Iskandarian
A historiadora Angela Schneider Bodien, de 44 anos, sempre viveu na Alemanha Ocidental. Não estava acostumada às restrições do Leste de seu país, dominado pelo regime comunista da República Democrática Alemã (RDA) até 1990, data da reunificação. Quando pisou lá, com 16 anos, descobriu que banana era “artigo de luxo”. Anos depois, chegou a disputar com um homem um cacho da fruta no supermercado.
O episódio curioso ocorreu dez dias depois da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Angela morava na cidade de Tübingen, no Sul da Alemanha, e fazia compras em um mercado. Conta que colocou no carrinho o último cacho de bananas que havia na gôndola. Virou-se para pegar outro produto e, quando percebeu, um homem havia pego a fruta dela.
“Elas tinham sumido. Fui dizer a ele que eu tinha escolhido as bananas e ele começou a gritar: ‘eu esperei por 40 anos. Agora, é a minha vez de ter bananas’”, diz a historiadora, reproduzindo as palavras do homem. “Descobri que ele era do Leste. Obviamente, aquela era a primeira viagem dele para o Oeste. A banana era o símbolo do luxo para eles.”
Longas filas
O engenheiro Lars Swanzig, 30, conhece bem essa dificuldade. Nasceu e cresceu no Leste de Berlim, onde tudo era racionado. “As pessoas conseguiam comida boa, mas fora de Berlim era difícil. Às vezes, tínhamos bananas e maçãs. Mas esperávamos em filas. Era muito difícil conseguir. Talvez dois anos. A logística era ruim”, afirma ele.
A dona de casa Irmtraut Hollitzer, de 66 anos, passou a vida toda em Leipzig, também no Leste do país. Ali, segundo ela, os problemas eram iguais. “Faltavam alimentos. Era normal a gente entrar em uma fila e ficar mais de duas horas, como às sextas-feiras, quando pegávamos carne para o fim de semana”, revela. Apesar disso, ela ressalta: “nunca houve fome. A oferta é que era restrita.”
E isso era para todo tipo de produto. “Faltava material de construção, pregos, só tinham dois tipos de verdura na venda”, conta Irmtraut, que revezava o tempo na fila com seus quatro filhos.
O historiador Stephan Wolle, do Museu da DDR (sigla em alemão para RDA), em Berlim, atribui o racionamento aos problemas do comunismo. “Era uma loucura. Tínhamos uma administração ruim e a economia não funcionava. Não tivemos investimentos suficientes (no Leste do país)”, afirma.
Cores x cinza
Angela e Swanzig tiveram experiências parecidas, porém, em lados opostos. Ambos se aventuraram pelas “metades de Berlim”. A jovem, então com 16 anos, viveu uma tarde de aventura: cruzou a fronteira entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental. O objetivo foi ver de perto como era a vida dos habitantes do Leste do país, até então uma realidade distante para a jovem que morava em Düsseldorf, no extremo Ocidente. A impressão, ela confessa, não foi das melhores. “Achei cinza, triste, não tinha muita gente na rua.”
Hoje com 44 anos e morando na parte ocidental de Berlim, ela ri da peripécia realizada em 1981. “Fui ao Portão de Brandemburgo (um importante ponto turístico) e fiquei impressionada com a quantidade de soldados por lá. Também fiquei surpresa com o prédio da Embaixada Soviética. Era um prédio grande, nunca tinha visto igual”. Na volta para casa, o alívio. “Fiquei aliviada quando vi a propaganda da Coca-Cola (um símbolo do capitalismo)."
Já o engenheiro achou tudo muito colorido quando pisou em Berlim Ocidental com os pais depois da queda do Muro, em novembro de 1989. Ele tinha dez anos. “Não sabíamos o que era tanta cor nas lojas, nas coisas, em todo lugar. Quando consegui o dinheiro do Oeste (a moeda entre as Alemanhas era diferente), a primeira coisa que comprei foi um chiclete”.
Fonte: G1
A historiadora Angela Schneider Bodien, de 44 anos, sempre viveu na Alemanha Ocidental. Não estava acostumada às restrições do Leste de seu país, dominado pelo regime comunista da República Democrática Alemã (RDA) até 1990, data da reunificação. Quando pisou lá, com 16 anos, descobriu que banana era “artigo de luxo”. Anos depois, chegou a disputar com um homem um cacho da fruta no supermercado.
O episódio curioso ocorreu dez dias depois da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Angela morava na cidade de Tübingen, no Sul da Alemanha, e fazia compras em um mercado. Conta que colocou no carrinho o último cacho de bananas que havia na gôndola. Virou-se para pegar outro produto e, quando percebeu, um homem havia pego a fruta dela.
“Elas tinham sumido. Fui dizer a ele que eu tinha escolhido as bananas e ele começou a gritar: ‘eu esperei por 40 anos. Agora, é a minha vez de ter bananas’”, diz a historiadora, reproduzindo as palavras do homem. “Descobri que ele era do Leste. Obviamente, aquela era a primeira viagem dele para o Oeste. A banana era o símbolo do luxo para eles.”
Longas filas
O engenheiro Lars Swanzig, 30, conhece bem essa dificuldade. Nasceu e cresceu no Leste de Berlim, onde tudo era racionado. “As pessoas conseguiam comida boa, mas fora de Berlim era difícil. Às vezes, tínhamos bananas e maçãs. Mas esperávamos em filas. Era muito difícil conseguir. Talvez dois anos. A logística era ruim”, afirma ele.
A dona de casa Irmtraut Hollitzer, de 66 anos, passou a vida toda em Leipzig, também no Leste do país. Ali, segundo ela, os problemas eram iguais. “Faltavam alimentos. Era normal a gente entrar em uma fila e ficar mais de duas horas, como às sextas-feiras, quando pegávamos carne para o fim de semana”, revela. Apesar disso, ela ressalta: “nunca houve fome. A oferta é que era restrita.”
E isso era para todo tipo de produto. “Faltava material de construção, pregos, só tinham dois tipos de verdura na venda”, conta Irmtraut, que revezava o tempo na fila com seus quatro filhos.
O historiador Stephan Wolle, do Museu da DDR (sigla em alemão para RDA), em Berlim, atribui o racionamento aos problemas do comunismo. “Era uma loucura. Tínhamos uma administração ruim e a economia não funcionava. Não tivemos investimentos suficientes (no Leste do país)”, afirma.
Cores x cinza
Angela e Swanzig tiveram experiências parecidas, porém, em lados opostos. Ambos se aventuraram pelas “metades de Berlim”. A jovem, então com 16 anos, viveu uma tarde de aventura: cruzou a fronteira entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental. O objetivo foi ver de perto como era a vida dos habitantes do Leste do país, até então uma realidade distante para a jovem que morava em Düsseldorf, no extremo Ocidente. A impressão, ela confessa, não foi das melhores. “Achei cinza, triste, não tinha muita gente na rua.”
Hoje com 44 anos e morando na parte ocidental de Berlim, ela ri da peripécia realizada em 1981. “Fui ao Portão de Brandemburgo (um importante ponto turístico) e fiquei impressionada com a quantidade de soldados por lá. Também fiquei surpresa com o prédio da Embaixada Soviética. Era um prédio grande, nunca tinha visto igual”. Na volta para casa, o alívio. “Fiquei aliviada quando vi a propaganda da Coca-Cola (um símbolo do capitalismo)."
Já o engenheiro achou tudo muito colorido quando pisou em Berlim Ocidental com os pais depois da queda do Muro, em novembro de 1989. Ele tinha dez anos. “Não sabíamos o que era tanta cor nas lojas, nas coisas, em todo lugar. Quando consegui o dinheiro do Oeste (a moeda entre as Alemanhas era diferente), a primeira coisa que comprei foi um chiclete”.
Fonte: G1